FONTE-www.radarlitoral.com.br
O navio Srakane, de bandeira panamenha, está fundeado no Canal de São Sebastião há mais de 15 dias, com sua tripulação, a maioria ucraniana, com salários atrasados. A informação foi passada às autoridades brasileiras pela ITF – International Transport Workers’ Federation, entidade que representa os tripulantes estrangeiros, com sede em Londres. Em vistoria, a Marinha constatou problemas de documentação e em equipamentos da embarcação.
De acordo com a entidade, o navio deixou, em 20 de março, o porto de Casablanca, no Marrocos, em direção ao Brasil e chegou a parar em estados como Pernambuco, Paraíba e Bahia, no Nordeste até chegar ao Canal de São Sebastião, onde está fundeado desde o dia 2 de junho, no sul de Ilhabela. Na quinta-feira (18), o navio fundeou ao norte de Ilhabela.
A embarcação está sem carga desde e veio para o Brasil na tentativa de ser afretado por um grupo de empresários brasileiros.
Por e-mail os 16 trabalhadores, que estão a bordo, conseguem se comunicar com a ITF e as autoridades brasileiras.
Os tripulantes reclamam que os salários estão atrasados há mais de sete meses sendo que, um deles, não recebe há quase um ano. Além disso, eles reportaram via e-mail que não tiveram como desembarcar até agora. Suas famílias nos países de origem estariam passando necessidades devido à falta do pagamento.
Um desses trabalhadores é um idoso, que está sem pagamento há quatro meses. Alguns desses tripulantes estão pedindo repatriação, pois não aguentam mais a situação.
O capitão do navio também não recebe o pagamento há quatro meses.
Segundo informações recebidas, a empregadora estrangeira que administra o navio não tem condições de saldar os salários dos tripulantes e nem de arcar com o custo da repatriação. O débito de salário somado ao custo da repatriação é superior a R$ 1 milhão.
Nesse período, já estiveram a bordo autoridades da Fiscalização do Trabalho ligado ao Ministério da Economia, Inspeção Naval da Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião e Polícia Federal.
A embarcação, até o momento, não obteve a livre prática emitida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), atestando suas condições sanitárias. O Radar Litoral não conseguiu ter um retorno do órgão.
Tensão a bordo
Com o clima tenso a bordo, os trabalhadores também reclamam do capitão do navio, de nacionalidade croata, de ameaçá-los constantemente para não denunciarem.
Houve a denúncia da falta de suprimentos bordo, já que o navio ficou fundeado por quase um mês no porto de Salvador na Bahia, aguardando instruções para seguir ao próximo destino.
Foi feito pedido de socorro de um tripulante às autoridades brasileiras alegando ter sido agredido pelo capitão do navio. Posteriormente, os tripulantes fizeram outro pedido de socorro, dessa vez alegando que o estoque de água e comida estaria acabando.
A situação dos tripulantes é considerada grave, necessitando de ajuda humanitária. Até o momento as autoridades federais brasileiras não conseguiram dar uma solução para o caso que se agrava a cada dia que passa.
Por todas essas questões, há risco de greve ou motim a bordo.
Há um pedido na Justiça para apreensão do navio e havia uma previsão de pagamento dos salários para o início da semana, o que não ocorreu.
Marinha
Por meio de nota, a Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião informou que ao longo do mês de junho recebeu denúncias de tripulantes do navio Srakane sobre maus tratos, trabalho escravo, problemas de ordem salarial e de provisões de bordo.
Em 10 de junho, foram realizadas diligências a fim de verificar as denúncias. Naquela ocasião, foi constatado pelo representante da Autoridade Marítima, no que tange à Lei 9.537 – Segurança do Tráfego Aquaviário, inconsistências documentais e de mau funcionamento de alguns dos equipamentos de bordo. Diante disso, “o navio encontra-se fundeado ao norte da Ilha de São Sebastião, onde permanecerá até sanar as discrepâncias elencadas”.