DE SÃO SEBASTIÃO PARA O MUNDO
Professora brasileira troca experiências sobre inclusão de crianças autistas nos Estados Unidos. Objetivo é melhorar o atendimento de crianças atípicas em todo o mundo
Especialista em inclusão como mais de vinte anos de serviço em escolas públicas da cidade de São Sebastião, no Estado de São Paulo, Gilcemara Odorizzi é uma reconhecida em todo Brasil por desenvolver projetos de inclusão de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
No ano passado, a professora decidiu ir além, foi para os Estados Unidos aprender com os americanos sobre inclusão: “Eu quero entender e ver como essa inclusão tem sido feita por aqui, mas quero ver sob a ótica de uma família”. Assim, com essa missão de estudar e aplicar seu conhecimento no Brasil e, também no mundo todo, Gilcemara embarcou para a cidade de Orlando para um ano dedicado ao voluntariado.
Hospedada desde agosto de 2023 na casa de uma brasileira, mãe de duas crianças autistas americanas, ela tem dedicado seus dias a acompanhá-las em diferentes locais. “Meus dias tem sido observar, buscar entender como está sendo feito as relações entre crianças atípicas com crianças atípicas e crianças atípicas com crianças típicas em diferentes ambientes como escola, igrejas, parques, lugares públicos e privados”.
Um desses ambientes, em especial, tem chamado atenção da professora, são as empresas privadas de lazer que independente do nível de suporte estão preparadas para receber essas crianças. “Todos os parques temáticos têm um sistema diferenciado para acolher as necessidades das pessoas com TEA, além de ter muitos locais para descompressão sensitiva. Os funcionários são treinados para reconhecer crises sensoriais e auxiliar com naturalidade. E o que chamou minha atenção é que muitas famílias usam os parques como ambientes para terapias comportamentais. Este é um ponto que estou escrevendo para termos ações direcionadas no Brasil”, comentou.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS
Outra oportunidade que tem possibilitado relevante troca de experiências é o voluntariado realizado em uma igreja brasileira em Orlando, reconhecida pelo trabalho acolhedor e inclusivo de crianças e adolescentes autista, a igreja Nova Vida. No local, onde ensina religião às crianças atípicas, ela tem aplicado técnicas inovadoras desenvolvidas no Brasil que auxiliam o desenvolvimento educacional. Entre as metodologias aplicadas, estão estratégias que integram elementos sensoriais e de comunicação visual, fundamentais para o desenvolvimento de crianças com TEA.
O trabalho voluntario tem rendido frutos e, neste segundo semestre de 2024, a professora convidou quatro voluntarias, que são especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), para juntas desenvolverem um manual de como ensinar temas abstratos como religião para estas crianças.
O sucesso dessa missão é tamanho que durante um dos dias dedicados ao voluntariado na Igreja, Gilcemara foi convidada por uma empresa americana de educação homeschooling, a Pathway, para palestrar sobre inclusão e estratégias integrativas de elementos sensoriais e visuais, além de participar de seminários e workshops sobre os desafios e avanços na educação inclusiva para crianças com autismo.
“Este convite foi uma experiência incrível. Como voluntária, além das palestras, comecei a visitar as aulas, observar as sessões, e conversar muito com as professoras e coordenadoras e com os pais. Assim, pude balancear minha experencia no Brasil com a realidade americana. Com esse conhecimento, Gilcemara passou a implementar atividades lúdicas, que combinam arte, música e movimento, e a utilizar ferramentas visuais que facilitam a comunicação e interação social, sempre respeitando as particularidades sensoriais de cada criança.
O impacto de sua presença foi imediato. Professores locais, profissionais de saúde e familiares notaram uma melhora nas interações das crianças e no engajamento com as atividades. “A troca de experiências foi maravilhosa. Eu pude perceber que, apesar das diferenças culturais e dos recursos, as necessidades das crianças com autismo são universais. Elas precisam de acolhimento, de ferramentas para se expressar e, acima de tudo, de serem vistas como seres humanos capazes”, relatou.
Agora, ela planeja continuar sua missão de inclusão, com um olhar ainda mais amplo. “Essa experiência internacional me fez perceber que podemos ir além das fronteiras geográficas para compartilhar conhecimento. Quero trazer mais práticas de outros lugares do mundo para aprimorar o que já fazemos”, afirmou.
A educadora espera que esse voluntariado seja o início de uma série de colaborações internacionais para melhorar o atendimento a crianças com autismo em diferentes partes do mundo. Com uma visão inclusiva e inovadora, Gilcemara demonstra que a educação especial pode transformar vidas, onde quer que seja aplicada.